João Cabral de Lira (Coordenador-Geral da FETRAF/RN) |
Em processo de formação política e de formulação/gestão coletiva de seu Planejamento Estratégico Participativo, desde o ano de 2007, dirigentes e assessores da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar – FETRAF-RN discutem a viabilidade, a auto-sustentação da Agricultura Familiar Potiguar. “Nossa pequena agricultura na região semi-árida tá correndo sério risco de se acabar. Num estado em que 90% do seu território é semi-árido, o sertão chega no mar, é urgente que a gente pense e demonstre na prática novas alternativas que sejam sustentáveis para as famílias produtoras, para o meio ambiente e para toda a sociedade potiguar”. Essa afirmativa de seu Coordenador Geral, João Cabral de Lira, expressa a preocupação da FETRAF com os destinos da agricultura familiar no Rio G. do Norte.
“Cada vez mais os membros mais jovens das nossas famílias agricultoras são levados a se afastarem, sem retorno, da atividade. Isso vem acontecendo há 20, 30 anos. Onde é que nós vamos parar…?”, complementa Cabral. Como em quase todo o resto do país, os pequenos agricultores daqui sofrem dessa dificuldade já crônica: a desestruturação das famílias, o desvinculamento de seus membros da atividade produtiva na agricultura. O êxodo rural tem hoje outra conotação, as pessoas saem da agricultura, da atividade produtiva no campo, mesmo permanecendo na sua localidade rural ou na sede urbana do seu município.
Em que pese a grande importância quantitativa e nutricional dos alimentos produzidos pelos agricultores familiares para a mesa dos brasileiros, a verdade é que estes produtores só auferem, quando muito, cerca de 5 a 10% do valor final de seus produtos (valor pago pelo consumidor, na ponta). O grande filão das cadeias produtivas oriundas da agricultura familiar fica na mão dos grandes atravessadores e distribuidores (nos comercializadores), cerca de 60 a 70%. Essa perspectiva de renda muito baixa da atividade tem desestimulado as famílias, até mesmo, a não investirem sua mão-de-obra na tradicional produção do próprio alimento (subsistência e segurança alimentar).
A Agricultura Familiar é responsável em média por 70 a 80% da cesta básica que alimenta os brasileiros. Não é à toa que o lema estampado na bandeira da FETRAF diz: “Agricultura Familiar, as mãos que alimentam a nação”. Mas, a produção de alimentos no mundo é hoje uma das grandes fronteiras do capital internacional. Infelizmente, a opção de quem quer rapidamente aumentar seu capital produzindo alimentos pra todo mundo, no mundo inteiro e ao mesmo tempo, não é exatamente pela Vida, pelo equilíbrio ecológico ou pela saúde do planeta, mas sim pelo lucro, pela acumulação de capital nas mãos de uns poucos e a qualquer custo.
Trata-se de uma das atividades mais agressivas ao meio ambiente. As áreas de matas e florestas derrubadas e os agrotóxicos usados em larga escala para produção de alimentos em escala mundial, são responsáveis em grande medida pelo buraco na camada de ozônio, pelo aquecimento global, pela degradação dos solos, pela extinção de nascentes de rios e de espécies, pelo êxodo rural, pelo inchaço e a violência crescentes, agora também nos pequenos centros urbanos, etc, etc.
A produção local sustentável de alimentos saudáveis, ao ser humano e ao Planeta, é hoje uma questão estratégica de desenvolvimento para as regiões. Diz respeito à sobrevivência, tem a ver com a continuidade da Vida na Terra como a conhecemos hoje. Felizmente, parte cada dia maior dos agricultores familiares, que produzem o seu e o nosso ‘alimento-de-cada-dia’ hoje já cultivam suas terras de forma sustentável: ecologicamente equilibrada, socialmente justa e economicamente viável. Trata-se da agroecologia, uma forma de viver e produzir da terra respeitando o equilíbrio natural dos ecossistemas, numa nova relação homem & natureza, de respeito, de interação, de inter-dependência. Essa produção de alimentos, pela agroecologia, é local, familiar, natural, orgânica, livre de agrotóxicos, ecologicamente equilibrada e geradora de autonomia nas economias dos pequenos e médios municípios. Por isso, fazer a opção, a adesão, ao consumo consciente dos produtos da agricultura familiar agroecológica e local é agir pela preservação e ampliação da Vida no Planeta.
“Aqui no Rio G. do Norte tem muitos companheiros agricultores e agricultoras que já produzem e comercializam alimentos de forma ecológica. Temos várias experiências dessas nas bases da FETRAF-RN. Queremos oferecer para a sociedade potiguar a opção de uma alimentação saudável, ecológica e por um preço justo pra os dois lados. Precisamos aproximar o consumidor do produtor para que todos tenham melhor qualidade de vida”, comenta João Cabral, e conclui: “uma nova agricultura, agroecológica, local e viável é necessária e possível!”
por Hildemar Peixoto
Assessor da FETRAF-RN
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